Quer Pipoca?

20 de junho de 2014

Cabo do Medo: de Niro Apavorante em Terror de Scorcese

(Cape Fear) EUA, 1991



Ex-detento persegue seu antigo advogado em busca de vingança pela sua prisão 14 anos antes. O jogo psicológico afetará toda a família de sua vítima.



Medooooo! Não tem pra ninguém quando se trata de Robert de Niro em Cabo do Medo. Remake do filme homônimo de 1962, esta história assombrosa consegue deixar qualquer um noiado por um bom tempo.

No filme, um ex-detento (de Niro) começa a ameaçar seu advogado (Nick Nolte) após 14 anos na prisão. História direta ao ponto: você me ferrou, eu sou um psicopata, você vai morrer. E olha, mais forte que distribuir facadas e tiros, Max Cady, personagem do de Niro, aterroriza aos poucos a família de seu advogado, de uma rápida aparição no portão de casa, a uma perseguição violenta dentro de casa, o personagem vai transtornando suas vítimas e mirando nas fraquezas e fragilidades da casa para, então, armar seu ato final de vingança. 

"I can out-learn you. I can out-read you. I can out-think you.
And I can out-philosophize you. And I'm gonna outlast you." Max Cady.

E que obra cheia de cenas memoráveis. Desde a saída de Max da prisão, cercada de relâmpagos e clima demoníaco, o filme lança mão de pequenos excessos para provocar o espectador e encher de bala na agulha para o final apavorante. Alguns momentos chegam a ser desesperadores. Prepare-se para nunca mais olhar um ursinho de pelúcia da mesma forma. Além disso, Juliette Lewis se destaca no papel da filha do advogado, Danielle, papel que a deu uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante aos 18 anos. Só a cena do encontro de Danielle com Max Cady no teatro da escola é um poço de tensão, com excelentes diálogos e a polêmica interação entre os dois personagens. Afinal, filme de terror não precisa ficar soltando estrondos nem sustos para travar a respiração da plateia. Outro destaque também fica para Jessica Lange, que imprime uma força impressionante à personagem Leigh, esposa do advogado. Elegante e completa em cena, Jessica transita da euforia ao pânico completo com desenvoltura e dá aula de atuação em um papel complexo, em que precisa lidar com o medo que a cerca, e o fascínio pelo personagem de Max, atraente até certo ponto, tanto pelo charme de de Niro, quanto pela diferença deste com seu marido, incapaz de fazer mal a uma mosca. Como uma mosca atraída por luz neon, Leigh trava seu próprio embate interior, afastando e se aproximando por Max. Afinal, seria ele tudo que a pacata esposa e mãe deseja: um bad boy que traga um pouco de aventura à sua vida?

O assassino, estuprador, maníaco, sociopata e derivados, Max Cady, em alguns momentos lembra até mesmo outro famoso vilão dos cinemas: Hannibal. Pobre Graciela, e sua partida chocante, mas absolutamente genial numa daquelas cenas que você não sabe se grita, xinga ou, bem, vomita. Para os cinéfilos, algumas pérolas também ficam guardadas. Na versão de Scorsese, os atores Gregory Peck e Robert Mitchum, respectivamente o advogado e o assassino no original de 1962, fazem participações especiais, deixando a experiência ainda mais divertida de se ver.

Em tempos de baixa de filme do gênero nos cinemas, é sempre bom olhar para trás e ter opções maravilhosas como essas para rever e passar perrengue junto com a família sofredora.


19 de junho de 2014

Ninfomaníaca Vol II: Metáforas e Violência na Conclusão da Obra Surpreendente

(Nymphomaniac: Vol. II) Dinamarca, Bélgica, França, Alemanha, Reino Unido, 2013


Segunda parte da história de Joe, a ninfomaíaca do título, em que revela mais sobre seu passado e conta novas perversões, após perder seu apetite sexual, ao novo amigo (?) Seligman.


Falar abertamente sobre sexo, hipocrisia, vício, feminismo, religiosidade e violência não está sendo fácil. Em tempos de opiniões abertas no fóro público que se tornou a Internet, encontrar ponto de concordância sobre quaisquer um desses temas, cascudos desde sempre, tornou-se trabalho quase impossível.

O que o diretor Lars Von Trier trouxe nessa obra (pense nela como um único filme de quase 5 horas) reflete alguns temas latentes tanto em sua obra, quando no bate-boca diário que se vê online e, bem, em qualquer mesa de bar ou sala de aula em que o diálogo esteja aberto. O que ele faz não é concluir nada, mas colocar dois personagens absolutamente dispares para debater temas comuns aos dois (cada qual com seu conhecimento sobre) e deixar com o espectador as conclusões, ou provoca-los devidamente.

Temos aqui tudo que já se deve esperar para quem viu o primeiro filme e os trailers do Vol II: sexo, violência, perversões e novas camadas de, bem, toda forma de putaria que Joe (Charlotte Gainsbourg), a ninfomaníaca, consegue se expor. Quando, enfim, se entende que esse comportamento não parte de 'safadeza' mas sim, de uma doença, ou nomeie como preferir, é impossível negar que, no fundo, já que não há limites, queremos mais é soltar a mão do carrinho e jogar os braços pra cima na queda da montanha russa. Joe em nenhum momento busca o sexo para se aliviar, mas sim para dar de comer ao monstro sexual que a habita. Paralelamente, o filme equilibra cada incursão sexual de Joe com metáforas à religião, relacionando alguns dos episódios de sua vida à Igreja ocidental comparada à oriental, além de revelar porque Seligman (Stellan Skarsgård) seja talvez o melhor ouvinte, confidente e possível amigo de Joe. Sem revelar muito da história, Stegman age como antítese perfeita do que Joe representa, e cuja presença pode mudar a existência do velho solitário para sempre.

Das inúmeras passagens dignas de menção, eu destacaria a sessão de terapia em grupo em que Joe aprende como tentar afastar toda forma de contato que desperte seu desejo sexual. Ela tenta, frustradamente, convencer-se de que pode ser curada, mas acaba causando uma verdadeira 'queda do pano' em todas aquelas personagens, dominadas pela própria hipocrisia em que vivem, um paralelo ao que a sociedade espera de cada indivíduo: que sejam uns como os outros, ao contrário de Joe, que entende, aceita e orgulha-se de sua 'condição' ninfomaníaca. Uma cena de arrancar aplausos.

Não é preciso muito estômago para assistir este filme. Mais valioso será ir de cabeça aberta para todas as discussões, e não são poucas, que ele provocará em você, que se verá refletindo inúmeras vezes sobre, bem, como ou porque você anda fazendo sexo, aonde pode chegar ao aceitar este ser imutável e único que representa quem você é de fato e como, acima de tudo, você consegue lidar e se relacionar com quem passa pela sua vida deixando marcas profundas ou, apenas, só uma gozadinha fácil de esquecer após cruzar a esquina.

Vá com tudo, queridos pipoqueiros, a viagem à mente surpreendente de uma Ninfomaníaca nunca foi tão fascinante, por mais aversão que ela possa causar.

9 de junho de 2014

'Os Croods' Surpreende com Excesso de Simpatia e Bom Ritmo

(The Croods) EUA, 2013



Família pré-histórica mantém sua rotina de constante luta por comida, proteção e criação da prole em um mundo cheio de ameaças. A separação dos continentes, no entanto, dará um novo sentido às suas vidas, com a chegada de um jovem que é a próxima etapa da evolução.


Convenhamos: qual o interesse que uma animação sobre uma família pré-histórica poderia ter no público? Maltrapilhos, constantemente cobertos de poeira, desdentados, mal encarados e disformes, os personagens mal serviriam para vender brinquedo, ou atrair adultos. Assim, pequeno era meu interesse em ver a obra. E que erro.

'Os Croods' é talvez um dos filmes mais simpáticos da Dreamworks desde 'Kung Fu Panda' (2008). Mesmo longe do espetáculo de 'Como Treinar Seu Dragão' (2010), o filme não demora mais que 5 minutos para conquistar seu coração e fazer a plateia gostar automaticamente da família de neandertais/homo sapiens/trogloditas. Logo em uma sensacional sequência de abertura conhecemos a rotina da família Crood, liderada pelo pai Grug (voz de Nicolas Cage no original) com sua esposa Ugga (Catherine Keener) em que, juntos, têm que desafiar animais mortais para conseguir comida, alimentar toda a família e retornar em segurança para a caverna que os protege dos perigos lá fora. Destaque para a bebê dos Croods, que ganha uma participação hilária no resgate do ovo que será a janta da família. Genial.

O filme se afasta do apuro científico e histórico, e explora livremente uma mescla entre diferente estágios evolucionários do ser humano, colocando juntos os Croods e o pensante e 'cerebrado' Guy (Ryan Reynolds). Além disso, brinca com espécies de animais ricos em detalhes e com excelentes conceitos criativos. Destaque para a revoada de pássaros-piranha donos de duas belas e engraçadas sequências. 

A animação transita a esmo por belos cenários ao longo da jornada da família em busca de segurança, após o início da separação dos continentes que quase os afasta permanentemente. O surpreendente entrosamento dos personagens garante a energia e constantes piadas que o filme espertamente consegue incluir, sem deixar de lado a história bem escrita pelos diretores Kirk de Micco e Chris Sanders, este responsável também pelos roteiros de 'Lilo & Stitch', 'Mulan', 'O Rei Leão', 'Aladdin' e 'A Bela e a Fera'.

Com o já tradicional desafio de entreter jovens plateias e os adultos que as acompanham ao cinema, o filme consegue com folga resolver o problema de criar empatia com uma família pré-histórica, entregar ação muito bem coreografada (continentes se abrindo e câmeras velozes entregam aqui resultados surpreendentes) e sem ficar aquela velha sensação de animação bem feita (e muito) com argumento frouxo e desinteressante. Além disso, brinda a plateia com emocionantes cenas, difíceis de acreditar que são apenas pixels bem renderizados na tela. Particularmente, a cena em que a família enfrenta a dor da possível perda de um de seus membros já deixa esta obra à frente de inúmeras que chegaram às telas recentemente e é um dos inúmeros motivos que garantiu sua indicação ao Oscar 2014 de Melhor Animação.

Prepare muita pipoca, queiros leitores, e vá de sorriso aberto pra este filme, que já tem sequência confirmada para 2017 e a gente vai ver fácil!

O filme está disponível atualmente no Netflix e também em DVD/Blu Ray.


8 de junho de 2014

'300 - A Ascensão do Império' não traz nada novo e decepciona

(300 - Rise of an Empire) EUA, 2014


General grego Themistokles lidera seu exército contra a invasão Persa liderada por Xerxes e Artemisia, vingativa comandante da marinha Persa.


E eis que o raio não caiu duas vezes no mesmo lugar. E tínhamos aqui tudo a favor: parte do elenco sobrevivente de volta, efeitos alinhados com a estética do filme anterior e abertura para novas e empolgantes cenas de batalhas. Tudo pronto, mas faltou liga, carisma e sobrou muito sangue mal feito, que mais parece uma geleia, toda vez que jorra na tela.

Na sequência do espetacular filme de 2006, conhecemos o general Themistokles (Sullivan Stapleton), que durante uma batalha travada metade na terra, metade no mar, consegue matar o Rei Dario (Igal Naor), pai de Xerxes (Rodrigo Santoro). Levado pela jovem Artemísia (Eva Green), o jovem príncipe se expõe à inúmeras maldições que o elevam ao patamar de um verdadeiro Deus. Conhecer o passado de Xerxes até aumentava o interesse por este '300', porém tudo cai por terra quando pouco ou nada de interessante é tirado da história do homem-que-virou-deus. Rodrigo Santoro retorna ao famoso papel, porém pouco tem a fazer em cena, e entra sem nada a acrescentar e sai sem muito feito. Incrível imaginar que até o vilão, fascinante em sua concepção visual, neste segundo filme é tão desinteressante quanto qualquer coisa que se vê em cena.

O diretor Noam Murro se esforça, com a tutela de Zack Snyder, diretor do filme anterior, imprime na tela cenas riquíssimas em detalhes, mas tanta plasticidade perfeita também se torna o fraco do filme. O tempo todo há grãos de poeira pairando em cena, câmeras lentas variando entre cenas de ação ou em, bem, qualquer outra cena do filme, atrapalham o que o primeiro '300' conquistou com esmero: uma transição dos quadrinhos para o cinema de forma brilhante e com personalidade. 

Aqui, uma batalha sem motivo se liga à próxima sem razão, em que aparentemente o desafio era tentar mostrar como conseguirão filmar uma guerra em alto-mar de forma crível e emocionante. O que sobra, no entanto, são belas e estrondosas batalhas vazias de sentido ou conflito que justifique tantas repetições. Themistokles só não segue mais deslocado do que todo o exército que comenda, formado de todos os estereótipos tradicionais: o filho que se esconde no meio do batalhão para cumprir a promessa feita ao pai, o guerreiro experiente que profere frases poéticas nas vésperas das lutas, o brucutu psicopata com sede de sangue e por aí vai. 

E é nas lutas que temos a coroação da falta de ousadia e desinteresse absoluto pela trama. Artemísia, em uma interpretação cansadíssima de Eva Green, procura ser a vilã tradicional e bitch que puder, mas aparentemente só consegue trocar de fantasia, couro sobre couro decorado com couro, e olhar feio para seu exército, automaticamente condenado a morrer ou pela espada ou pela falta de humor de sua general. Xerxes acompanha tudo de longe e quase vira um cachorrinho nas mãos de Artemísia. Themistokles procura, no máximo, criar alianças com o Espartanos em momentos raros de bons diálogos com a viúva de Leônidas (Gerard Butler), a Rainha Gorgo (Lena Headey), única personagem que dá alguma dignidade à coisa toda. Quando as batalhas acontecem, e acredite, não há mais de 15 minutos de filme sem uma, sobra excesso, temos menos gore e cenas de impacto real, e muitos truques de fotografia e câmera, que fazem parecer que o filme inteiro foi feito com filtros e efeitos de Instagram.

Assista por conta, queridos pipoqueiros, porque neste '300' não teremos as inovações, impacto, surpresas ou novas e célebres frases que serão adotadas como a inesquecível "This is Sparta!", ficando somente a pressa para acabar tudo logo e o saudosismo do incrível filme anterior. Passe sem esse. Tá tranquilo.


3 de junho de 2014

Novas Imagens do set de Star Wars e Novidades no Elenco


Saíram novidades do set de Star Wars - Episódio VII! As imagens 'vazadas' mostraram que, dentre as boas novas, teremos novamente cenários reais criados para o filme e muitos Puppets! 

Se tudo continuar se afastando da plasticidade fake dos Episódios I, II e III, o filme acaba de ganhar nosso interesse \o/





Além dessas maravilhas, houve novas aquisições ao elenco: Lupita Nyong'o (12 Anos de Escravidão) e Gwendoline Christie (Game of Thrones) estão confirmadas no elenco da aventura! 


1 de junho de 2014

Malévola: Fantasia e Charme Inofensivos

(Maleficent) 2014, EUA, Reino Unido



Um novo ângulo sobre a história por trás de um dos  feitiços mais famoso dos desenhos Disney, mostrando origens, os acontecimentos paralelos e dando um novo final à história da fada Malévola.


O que há para não gostar neste 'Malévola'? Assumidamente fantástico, o filme se apresenta desde o início como um conto de fadas daqueles, e assim abraça o tema até o final. Mais um dos live actions de clássicos Disney, iniciado por 101 Dálmatas (1996), e que já revisitou Alice no País das Maravilhas em 2010, Malévola traz Angelina Jolie (fascinante) como a famosa vilã.


Com uma proposta idêntica ao do famoso musical da Broadway 'Wicked', o filme procura contar a história anterior aos acontecimentos de "A Bela Adormecida", além de mostrar o que ocorria em paralelo à história que todos conhecem de cor. Por ser feito pela própria Disney, o filme fica livre para se manter fiel ao material original e difere, por exemplo, da caracterização dos personagens que Branca de Neve e o Caçador (2012) fez, replicando a clássica figura da vilã dos desenhos, em uma reprodução perfeita criada por Jolie.

Invariavelmente, é quando ela está na tela que o filme fica absolutamente interessante. A boa notícia é que isso acontece quase o tempo inteiro da projeção. Jolie consegue mostrar muita maldade e doçura, e até mesmo emocionar em cenas lindamente filmadas. Para mim, não haveria hoje uma atriz que entregasse a qualidade de interpretação que ela consegue neste filme, tornando a vilã extremamente carismática. A cena em que ela invade o castelo do Rei Stefan (Sharlto Copley) para lançar seu feitiço sobre Aurora (Elle Fanning) é tão hipnotizante em sua execução que lembra, eu diria, a primeira aparição do Coringa para os capangas reunidos em Cavaleiro das Trevas, simplesmente impossível olhar para qualquer outra coisa e não ver ali a performance de uma atriz plena e ciente de seu poder, com ou sem efeitos especiais grandiosos, ficando evidente o quanto Jolie estava se divertindo com aquilo tudo. E como todo bom conto de fadas, o filme é mesmo deslumbrante de se ver. São tantos elementos extremamente detalhados ao mostrar o mundo de Malévola, que já temos o segundo melhor ponto do filme: efeitos e fotografia excelentes, o que era esperado do estreante diretor Robert Stromberg, vencedor do Oscar de direção de arte por Alice (2010) e Avatar (2009).

Sendo assim, o restante do elenco tem pouco a fazer, até mesmo Elle Fanning não entrega nada além do que o papel limitado que Aurora pede dela. Não me incomodou o excesso de sorrisos e alegria constante da garota afinal, sejamos francos, ela está enfeitiçada para ser feliz, para ser bonita e para furar o dedo aos 16 anos, não é culpa dela.

No todo, o filme vale a sua pipoca, o seu tempo e cumpre a tarefa de entreter com qualidade. Vão sem medo, amigos pipoqueiros, caiam no encanto dessa vilã e os desafio a sair de cara emburrada, a não ser, claro, que você não curta Lana Del Rey cantando Once Upon a Dream nos créditos. 

Em tempo, o teaser do próximo live action da Disney, Cinderella, já saiu no mês passado e você pode conferir aqui.


29 de maio de 2014

'The Normal Heart' tem altos e baixos, mas emociona

(The Normal Heart) EUA, 2014

Ativista tenta levar conscientização sobre o vírus do HIV no início da crise causada pela doença em Nova York durante os anos 80, e que resultou em milhares de mortes.




Os primeiros anos da crise criada pela epidemia do vírus HIV nos Estados Unidos deixaram marcas históricas até hoje. Do medo causado pelo 'câncer gay' como era chamado no início, à ausência de informações sobre a doença, o absoluto desinteresse do governo em oferecer recursos para pesquisas do tema e o reforço de preconceitos a homossexuais, a iniciativa de tentar entender e conter o vírus e, assim, dar suporte a cada um dos infectados partiu de dentro do grupo que mais sofreu perdas durante esses primeiros anos: os gays. 

Sem recursos, apoio ou conhecimento científico avançado, canais de comunicação foram criados para ajudar infectados e tentar criar uma maior conscientização sobre o vírus, mesmo quando ainda era praticamente nula a quantidade de informação à época. 

É nesse contexto que o filme acontece. Adaptação da peça 'The Normal Heart' de Larry Kramer, o filme estreou na HBO com boas promessas, e desconfianças: elenco contando com Julia Roberts, Mark Ruffalo, Alfred Molina e Jim Parsons, tema sensível e o controverso diretor de 'Comer, Rezar e Amar', também criador da série 'Glee'.

O que acontece é que o filme se afasta do público enquanto ainda está na etapa de apresentação e construção de suas personagens, e quando enfim chega a sua segunda, e emocionante, metade, já está sem fôlego para por nos eixos a inconsistência narrativa que criou. Temos intervalos de cenas pontuais, talvez resultado da peça em que se baseia, que o torna menos orgânico, e mais episódico ao longo da primeira hora. 

Aqui destaca-se Julia Roberts como a Dra. Emma Brookner, uma das pioneiras na pesquisa sobre o vírus. Papel forte em que, novamente, se despe de vaidade e faz mais uma interpretação tensa (pegada que lembra sua personagem de 'Osange County'). Contraste com Ruffalo, com choramingos demais ao longo do filme, mas que consegue entregar ao menos uma cena impecável, em que discute com o irmão, interpretado por Alfred Molina, sobre igualdade e preconceito, em uma das melhores cenas do filme. Essa cena também marca o ponto de virada do filme, que engata um ritmo intenso de emoção e cenas doloridas, nada gratuitas, e também ótimos diálogos gerados do conflito de um grupo de pessoas tentando combater algo que não entendem, mas perdendo amigos, e a esperança, pouco a pouco, pelo caminho.

Mas seria muita cagação de regra desmerecer o filme, quando seu principal mérito não é técnico, mas ético, e nisso ele cumpre sua proposta, abrindo espaço para a reflexão sobre a dor da perda e o choque entre a sonhada liberação sexual de toda uma geração e a epidemia que matou milhares de jovens como um dos tristes resultados. 

Uma dica para vocês, pipoqueiros dedicados, é assistir depois desse filme ao documentário "How to Survive a Plague", fortíssimo retrato do ativismo gay em Nova York durante os anos em que a epidemia do virus HIV se espalhou, e um importante lembrete de como um grupo engajado pode ter poder de transformação política e conscientização, chegando até a salvar vidas.



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