Após décadas adormecido, monstro ressurge provocando destruição e morte em busca de novas fontes de radiotividade para se alimentar e procriar. Em seu caminho, Godzilla, outra criatura gigantesca, vai defender seus territórios a todo custo.
Está tudo lá: diretor de filme hype de monstros, chamado [pausa dramática] 'Monstros' (2010), elenco supimpa, 16 anos de diferença da última aparição do bicho nos cinemas americanos (que tinha lá seus altos e baixos), e avanços tecnológicos suficientes, chegamos a este novo Godzilla. O filme faz uma grande reverência ao material em que se baseia, desde o conceito do bicho, à trilha sonora e à premissa de que é preciso ter briga de monstros para ser um filme de Godzilla. E tudo isso está lá entregue. Nada americanizado, patriotadas ou forçadas de barra, em um filme em que convenhamos, já parte de uma. Então porque Godzilla acaba sendo tão enfadonho e esticado?
Um dos motivos é que o filme perde pontos quando chega a hora de apresentar seu grande protagonista. Ainda que ele o faça em uma inspiradíssima cena em meio a espetaculares explosões num aeroporto, nem aquele charme de mostrar aos poucos partes do bicho, de forma a criar uma tensão crescente, o filme tenta, já partindo para a ação e enchendo a tela com a imagem do monstro com cara de poucos amigos e um olhar de malzão. Mas quando o faz, o filme se volta para o que está acontecendo entre os humanos. Dentre os personagens, está o cientista Joe Brody (Bryan Cranston), que trava uma verdadeira batalha contra a companhia que causa o despertar de monstros alterados por radiação, liderada pelo Dr. Ishiro Serizawa (Ken Watanabe, chato e canastrão) e Vivienne Graham (Sally Hawkins, repetindo o mesmo papel de Blue Jasmine).
O que também atrapalha é que a separação, e ocasional luta para reaproximar uma família, lembra bastante o enredo do espetacular "O Impossível" (2012) e é bastante desinteressante. Não se vê em algum momento que aquela família esteja, de fato, sob algum risco ou prestes a estar. É como se houvesse muita cerimônia para criar algum vínculo com o fator humano do filme, o que é louvável, porém esse fator é cansado e soa superficial, deixando aquela sensação de "OK, vocês estão preocupados uns com os outros, agora tragam o godzilla de volta", e isso nunca se cumpre.
A tudo isso junta-se uma tremenda falta de senso de humor. Ninguém tira sarro de ninguém, o monstro não cria nenhuma empatia involuntária (convenhamos, ele está destruindo San Francisco, uma das cidades mais maneiras do mundo, não custava nada) e as cenas do Joe Brody parecem sempre choramingos eternos. Godz, pisa nele, sério.
Mas há ao menos uma ressalva aqui: o monstro em si, fiel ao conceito original do Godzilla, faz peso, literalmente, na tela. Repete os movimentos lentos do japonês, é bem menos pop que seu homônimo anterior, solta fogo pela boca (em duas belas cenas) e impressiona pela complexidade com que foi criado. Salva de palmas pela conquista aqui.
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