Quer Pipoca?: Robocop - Robôs ou Humanos Exercendo a Lei?

5 de maio de 2014

Robocop - Robôs ou Humanos Exercendo a Lei?

(Robocop) EUA, 2014
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Em uma Detroit do futuro, a criminalidade chega a níveis preocupantes, invadindo a polícia e grandes corporações. O policial Alex Murphy lidera as investigações de venda de armamento da polícia a gangues da cidade, mas ao sofrer um atentato é transformado em um policial robô criado pela super corporação OCP. No entanto, o equilíbrio humano-máquina se mostra frágil e o domínio da corporação sobre suas ações criam um risco para o próprio policial e sua família.


As expectativas eram altas. Os riscos também. O novo filme de José Padilha depois do fenômeno 'Tropa de Elite 2' (2010), e primeiro do diretor em Hollywood, por si só já era um desafio daqueles: trazer para os novos tempos a história do clássico de 1988 dirigido por Paul Verhoeven, atualiza-la e manter o equilíbrio entre o conflito do policial confinado em um corpo robótico, a crítica política e às grandes corporações, embalando tudo em um grandioso (e sanguinário) filme de ação. Robocop on steroids!

O problema foi pegar aquele material e trabalhar com liberdade que o estúdio, provavelmente, não permitiu. A crítica política está lá, mas mais suave e inofensiva que o debate levantado, por exemplo por qualquer um dos Tropa de Elites, ou filmes anteriores do Padilha. O tempo, no entanto, é mais investido no drama do policial Alex Murphy (Joel Kinnaman) e numa discussão interessante. O Robocop é, acima de tudo, o produto de uma empresa, exercendo a lei que, até aquele momento, era feito por humanos. O controle tecnológico sobre o policial, que pode perder sua humanidade ou memórias de seu passado a bel prazer dos cientistas liderados pelo Dr. Dennett Norton (Gary Oldman) o torna mais ou menos apto a refletir com velocidade sobre o infrator, sua pena e a medida de punimento a ser adotada em campo. Logo, quem é responsável por responder às ações deste robô: a máquina/empresa por trás, ou o humano que nela vive?

Quanto mais tempo ele levar para tomar suas decisões em um conflito (diferença de segundos) menos comercial ele se torna, se comparado aos robôs utilizados pela OCP em zonas de conflito no oriente-médio. O problema daqueles robôs, no entanto, é que não são carismáticos o suficiente pela falta de um elemento que fale mais alto ao público, no caso, humanidade. A galinha dos ovos de ouro OCP torna-se então, um policial meio robô, meio humano.

Eis que entra Alex Murphy, ou partes dele, quando após um atentado é transferido para dentro do robô dotado de vários dispositivos online, capazes de torna-lo praticamente onipresente quando sai a caça de criminosos, podendo acessar câmeras de segurança de toda a cidade, gerar rotas em mapas e associar suspeitos procurados com seus outros parceiros. Mas é nesse capacidade que também começam a surgir podres dentro da própria corporação à qual o policial se dedica.

Junte-se a isso um apresentador extremista pró-robô que reforça a cada aparição de seu programa, o absurdo de não se utilizar robôs dentro das forças policiais dos Estados Unidos. Com discurso ufanista pesado, ele lança farpas ao congresso e opositores dos robôs, chamando-os até de robofóbicos. Uma farra só.

É um filme de ação, e todas as cenas estão lá, com câmeras se movimentando por longos espaços sem cortes, muito tiro e mortes de mentirinha, já que o Robocop usa mais tasers que bala para imobilizar inimigos. Outro ponto marcante aos saudosistas é a trilha sonora do original que retorna e enche de alegria aos corações dos fãs. Mas que talvez tenha faltado aqui foi carisma. Em nenhum ponto estamos realmente preocupados com o conflito do homem dentro da máquina, que renderia excelentes segmentos. E quando acontecem, são ralos e sem emoção alguma.  O fascínio e alcance da obra original aqui se perdem, ficando somente a tentativa sincera de, pelo menos, não estragar tudo que o original um dia se propôs. O difícil é determinar se, por força do estúdio, Padilha não pode mostrar mais a que veio, já que sabemos bem sua técnica, talento e direções certeiras dos filmes anteriores.









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