Ativista tenta levar conscientização sobre o vírus do HIV no início da crise causada pela doença em Nova York durante os anos 80, e que resultou em milhares de mortes.
Os primeiros anos da crise criada pela epidemia do vírus HIV nos Estados Unidos deixaram marcas históricas até hoje. Do medo causado pelo 'câncer gay' como era chamado no início, à ausência de informações sobre a doença, o absoluto desinteresse do governo em oferecer recursos para pesquisas do tema e o reforço de preconceitos a homossexuais, a iniciativa de tentar entender e conter o vírus e, assim, dar suporte a cada um dos infectados partiu de dentro do grupo que mais sofreu perdas durante esses primeiros anos: os gays.
Sem recursos, apoio ou conhecimento científico avançado, canais de comunicação foram criados para ajudar infectados e tentar criar uma maior conscientização sobre o vírus, mesmo quando ainda era praticamente nula a quantidade de informação à época.
É nesse contexto que o filme acontece. Adaptação da peça 'The Normal Heart' de Larry Kramer, o filme estreou na HBO com boas promessas, e desconfianças: elenco contando com Julia Roberts, Mark Ruffalo, Alfred Molina e Jim Parsons, tema sensível e o controverso diretor de 'Comer, Rezar e Amar', também criador da série 'Glee'.
O que acontece é que o filme se afasta do público enquanto ainda está na etapa de apresentação e construção de suas personagens, e quando enfim chega a sua segunda, e emocionante, metade, já está sem fôlego para por nos eixos a inconsistência narrativa que criou. Temos intervalos de cenas pontuais, talvez resultado da peça em que se baseia, que o torna menos orgânico, e mais episódico ao longo da primeira hora.
Aqui destaca-se Julia Roberts como a Dra. Emma Brookner, uma das pioneiras na pesquisa sobre o vírus. Papel forte em que, novamente, se despe de vaidade e faz mais uma interpretação tensa (pegada que lembra sua personagem de 'Osange County'). Contraste com Ruffalo, com choramingos demais ao longo do filme, mas que consegue entregar ao menos uma cena impecável, em que discute com o irmão, interpretado por Alfred Molina, sobre igualdade e preconceito, em uma das melhores cenas do filme. Essa cena também marca o ponto de virada do filme, que engata um ritmo intenso de emoção e cenas doloridas, nada gratuitas, e também ótimos diálogos gerados do conflito de um grupo de pessoas tentando combater algo que não entendem, mas perdendo amigos, e a esperança, pouco a pouco, pelo caminho.
Mas seria muita cagação de regra desmerecer o filme, quando seu principal mérito não é técnico, mas ético, e nisso ele cumpre sua proposta, abrindo espaço para a reflexão sobre a dor da perda e o choque entre a sonhada liberação sexual de toda uma geração e a epidemia que matou milhares de jovens como um dos tristes resultados.
Uma dica para vocês, pipoqueiros dedicados, é assistir depois desse filme ao documentário "How to Survive a Plague", fortíssimo retrato do ativismo gay em Nova York durante os anos em que a epidemia do virus HIV se espalhou, e um importante lembrete de como um grupo engajado pode ter poder de transformação política e conscientização, chegando até a salvar vidas.
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