«
Rapaz visita a família do namorado morto para o seu funeral e passa a ter contato com os familiares, que não sabem de sua orientação sexual, e os segredos que os rodeiam em toda cidade.
Xavier Dolan segue mostrando a que veio a cada filme. De sua estreia com Eu Matei a Minha Mãe (2009), até Amores Imaginários (2010) e recentemente Lawrence Anyways (2012), o diretor, hoje com 25 anos, segue ampliando suas experiências cinematográficas em campos cada vez mais distintos. Com Tom à la Ferme, Xavier se afasta pela primeira vez dos excessos visuais e narrativos que marcaram seus filmes anteriores, e entrega um filme linear, consistente e, por vezes, surpreendente.
No filme, Xavier vive o Tom, que dá nome à obra baseada na peça de Michel Marc Bouchard. Obrigado a visitar o interior do Canadá para estar presente ao funeral de seu namorado morto, Tom precisa administrar sua dor enquanto vai conhecendo mais a fundo a mãe e o irmão de seu ex-namorado. Aqui temos dois personagens marcantes, uma mãe carente e solitária que sofre a dor da perda e questiona a todo tempo porque seu filho se afastava cada vez mais dela antes de morrer, e Francis (Pierre-Yves Cardinal), irmão de seu ex, que já de início se revela um sociopata, aparentemente tentando proteger a mãe do trauma de saber que o filho era homossexual, mas aos poucos mostrando que guarda impulsos malignos lentamente apresentados a Tom.
A construção das cenas do longa já são o primeiro acerto de Dolan, que consegue ir dispondo os elementos que marcarão as descobertas de Tom sobre aquela família a medida que vai conhecendo outras personagens da cidade. Quando as revelações começam enfim a aparecer, já temos um quebra-cabeças inteiro previamente montado, pronto a revelar uma imagem estranha e distorcida de uma tradicional família do interior e do passado que marca suas vidas dentro da cidade.
Todo o filme mostra muitas vezes uma influência de Hitchcock, desde as decisões da edição, essencial à conclusão de toda a história e marcação do clima crescente de suspense, até a trilha sonora, que se apresenta em cenas aparentemente irrelevantes, mas revela que nelas teremos informações valiosas. Aqui, a fotografia também ajuda a mostrar, com cores opacas, que a vida naquela casa de interior se esvai aos poucos e cada morador, à sua maneira torta, tenta se prender ao passado ou fugir das verdades que não querem enxergar.
Vá sem receio, querido pipoqueiro. Temos neste Tom at The Farm um Xavier Dolan mais sóbrio, maduro e, novamente, prendendo nossa atenção sem apelar para soluções de impacto esvaziadas de sentido. Deixe-se levar pela jornada de Tom, mas sem deixar de prestar atenção ao que o rodeará na viagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário