Quer Pipoca?: Ninfomaníaca Vol II: Metáforas e Violência na Conclusão da Obra Surpreendente

19 de junho de 2014

Ninfomaníaca Vol II: Metáforas e Violência na Conclusão da Obra Surpreendente

(Nymphomaniac: Vol. II) Dinamarca, Bélgica, França, Alemanha, Reino Unido, 2013


Segunda parte da história de Joe, a ninfomaíaca do título, em que revela mais sobre seu passado e conta novas perversões, após perder seu apetite sexual, ao novo amigo (?) Seligman.


Falar abertamente sobre sexo, hipocrisia, vício, feminismo, religiosidade e violência não está sendo fácil. Em tempos de opiniões abertas no fóro público que se tornou a Internet, encontrar ponto de concordância sobre quaisquer um desses temas, cascudos desde sempre, tornou-se trabalho quase impossível.

O que o diretor Lars Von Trier trouxe nessa obra (pense nela como um único filme de quase 5 horas) reflete alguns temas latentes tanto em sua obra, quando no bate-boca diário que se vê online e, bem, em qualquer mesa de bar ou sala de aula em que o diálogo esteja aberto. O que ele faz não é concluir nada, mas colocar dois personagens absolutamente dispares para debater temas comuns aos dois (cada qual com seu conhecimento sobre) e deixar com o espectador as conclusões, ou provoca-los devidamente.

Temos aqui tudo que já se deve esperar para quem viu o primeiro filme e os trailers do Vol II: sexo, violência, perversões e novas camadas de, bem, toda forma de putaria que Joe (Charlotte Gainsbourg), a ninfomaníaca, consegue se expor. Quando, enfim, se entende que esse comportamento não parte de 'safadeza' mas sim, de uma doença, ou nomeie como preferir, é impossível negar que, no fundo, já que não há limites, queremos mais é soltar a mão do carrinho e jogar os braços pra cima na queda da montanha russa. Joe em nenhum momento busca o sexo para se aliviar, mas sim para dar de comer ao monstro sexual que a habita. Paralelamente, o filme equilibra cada incursão sexual de Joe com metáforas à religião, relacionando alguns dos episódios de sua vida à Igreja ocidental comparada à oriental, além de revelar porque Seligman (Stellan Skarsgård) seja talvez o melhor ouvinte, confidente e possível amigo de Joe. Sem revelar muito da história, Stegman age como antítese perfeita do que Joe representa, e cuja presença pode mudar a existência do velho solitário para sempre.

Das inúmeras passagens dignas de menção, eu destacaria a sessão de terapia em grupo em que Joe aprende como tentar afastar toda forma de contato que desperte seu desejo sexual. Ela tenta, frustradamente, convencer-se de que pode ser curada, mas acaba causando uma verdadeira 'queda do pano' em todas aquelas personagens, dominadas pela própria hipocrisia em que vivem, um paralelo ao que a sociedade espera de cada indivíduo: que sejam uns como os outros, ao contrário de Joe, que entende, aceita e orgulha-se de sua 'condição' ninfomaníaca. Uma cena de arrancar aplausos.

Não é preciso muito estômago para assistir este filme. Mais valioso será ir de cabeça aberta para todas as discussões, e não são poucas, que ele provocará em você, que se verá refletindo inúmeras vezes sobre, bem, como ou porque você anda fazendo sexo, aonde pode chegar ao aceitar este ser imutável e único que representa quem você é de fato e como, acima de tudo, você consegue lidar e se relacionar com quem passa pela sua vida deixando marcas profundas ou, apenas, só uma gozadinha fácil de esquecer após cruzar a esquina.

Vá com tudo, queridos pipoqueiros, a viagem à mente surpreendente de uma Ninfomaníaca nunca foi tão fascinante, por mais aversão que ela possa causar.










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